quinta-feira, 30 de abril de 2009

Vive cinza, vive

Sinto... Que nada sinto...
Um ardor no meu peito
Que se enrola como uma chama,
Que negra e vasta te proclama,
Procurando água para se acalmar..
Chama que arde sem pudor...
Procura matar a sede, ainda sem a encontrar...
E no escuro deste vasto mundo se tende a estender,
Tende a destruir, e a queimar...
E não consegue, por mais que queira, parar.
Tudo o que queima, consome,
E tudo o consumido, só em cinza se pode transformar...
Oh mundo, não te destruas...
Não te deixes pelas chamas destruir,
Pelas chamas queimar..
Pois toda a potente chama, de cinza não passa,
E qualquer brisa devassa
A leva para longe daqui...
Voa, cinza, revoa...
Se disso não passas, em que mais te podes transformar?
Liberta a tua cor ausente,
Que outrora tives-te em mente
E se perdeu...
Com as chamas se foi...
Com as chamas se desvaneceu...
Voa, por isso, cinza.
Voa porque despedaçada nada mais poderás ser,
Nunca mais te juntarás ao que foste,
Nunca mais te unirás ao que acabas de perder...
E tu...
Se és pássaro, voa.
Quebra ventos e tempestades, mas voa.
Encontra-a e pega, algures, nesta cinza,
E simplesmente revoa.
Leva-a para o teu ninho...
Não deixes que o vento,
Em mais breve desalento
Te leve a cinza por outro caminho...
Acolhe a peqena cinza, e alimenta-a...
Acolhe-a no aconchego do teu ninho,
E com amor e carinho,
Constrói um novo ser,
Mostra a essa cinza que pode ser mais que aquilo que é,
Muito mais que aquilo que foi,
Que pode crescer, e ter a cor mais viva
Que em vez alguma sonhou obter...
Se o fogo se apagar...
Nao deixes essa cinza voar...
Porque precisa das tuas penas
Para poder continuar a viver...
Para continuar a sonhar...