quarta-feira, 20 de maio de 2015

E eu? Eu amo.


Autora - Marta C. Mendes | Local: Rosmaninhal, Estuário e Vale do Tejo | 2014

Há quem diga que a nossa profissão é o que temos de mais precioso, que a nossa carreira é tudo, que é o que nós somos. Há quem acredite que a família é o mais importante, e que é ela que está sempre presente para o bem, e para o mal.
No que eu acredito?
Eu acredito que a família está lá, mas nem sempre tem a sensibilidade de compreender aquilo que nós somos. Eu acredito que a minha carreira está a ser construída, que é feita das minhas escolhas, e que bem ou mal, terei uma.
Mas o que é mais importante para mim?
Amor.
E parece lamechas que fale desta forma, mas «o amor tudo constrói», e é verdade.
Pouco me importa se depois de dar a mão, me dêem um pau com espinhos; ou depois de dar palavras amigas, me ignorem. Pouco me interessa se irão aproveitar-se do pouco que necessitam de mim, para depois ignorar, rejeitar, ou prejudicar. Isto é o que eu sou, e não vou tornar-me numa pessoa menos sensível apenas porque me fizeram mal.
É verdade que as pessoas crescem, e mudam... Muitas tornam-se amargas depois de um desgosto amoroso, desgostos com amigos muito próximos, por vezes traídos pela própria família. Outros são passados para trás, não são reconhecidos, e são usados. Todos mudam, todos se tornam mais fortes, e quase todos perdem a confiança no próximo.
E eu?
Eu amo. Todo e qualquer ser à face da terra é digno do meu amor, até que me mostre o contrário - e certamente, alguns mostram-no mais rápido que outros. E não tenho medo dos que me mostram logo que não o merecem, tenho medo dos que demoram anos a mostrá-lo.
Fui traída, trocada, humilhada, esquecida, rejeitada, usada, uma e outra vez, nunca pela mesma pessoa, e quanto mais pessoas conheço que me fazem mal, mais acredito que há muitas pessoas egoístas e prontas a fazer mais do mesmo. Conheço, não acredito nem confio, mas dou sempre o benefício da dúvida - e apesar de todas as lágrimas que já deixei correr, dos sufocos que vivi, dos apertos no peito e das faltas de ar, não me arrependo de me entregar a cada momento como se fosse o primeiro, e entregar-me de corpo e alma, vive-lo, e aproveitá-lo com a máxima de intensidade que o momento exigir. E se acabar... Sei que dei o meu melhor. Vou chorar, vou sufocar, e vou ter dificuldade em respirar, mas o que passou foi verdadeiro, e valeu a pena. Aprendi, e cresci. Sofri. Mas coloquei mais uma ligadura no coração, e que venha a próxima batalha. Alguma há-de ser vencida.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Perdida...

Não percebo o que se passa...
Tantos anos que perdi sem dar conta disso,
Tanto tempo que desperdicei sem que me apercebesse que o tempo passava...
Perdi a noção do que é viver.
De repende, vejo tudo desmoronar, e parece que o mundo se virou contra mim.
Parece que o mundo nunca me ligou.
Já não sei porque vivo, nem quem sou.
Já não faz o menor sentido acordar de manhã para uma rotina que não me diz nada.
Já não quero saber do que me rodeia, porque tudo se foi embora... E nada voltou.
Nada do que tive de facto me pertenceu.
Nada do que esperei que voltasse voltou,
E nada do que esperei viver aconteceu.
Planeei a minha vida, e afinal o que vivi foram meras recordações que nunca existiram.
Não consigo lembrar-me de como é sentir-me feliz,
Não consigo recordar-me de como é não ter preocupações.
Meras preocupações.
Preocupações à toa, que me matam precocemente.
Que não me secam as lágrimas incessantes por se libertarem,
Que arrastam o meu corpo no dia a dia, sem viver, sem lutar.
Abro os olhos e, cansada, percorro o caminho que me mandaram percorrer.
A responsabilidade tomou conta da minha vida, e nada mais faço senão ao correcto corresponder.
Sinto-me sozinha... E desta vez perdi-me sem possibilidade de renascer.

sábado, 30 de maio de 2009


Num pequeno passo, fecho os olhos e sinto todo um mar de emoções que nunca antes sentira.
Cada detalhe é demasiado importante.
Cada gesto é apenas... teu.
Vives num mundo à parte, ao qual designas-te de "Quarta dimensão".
Bem... Não me disses-te que moravas lá...
Mas eu sei.
Sei porque uma vida inteira vivi dentro de uma bolha,
Tentando adaptar-me a este mundo,
E não consegui...
Uma vida inteira ouvi palavras, ouvi gestos, ouvi emoções,
E li os pensamentos através do olhar de cada pessoa.
Porque razão, em toda uma vida, ninguém me conseguia ouvir?
Ninguém compreendera os meus gestos,
As minhas emoções,
Nem lera os meus pensamentos através do meu olhar?...
Com o tempo, perdi a noção de que começava a agir como os "terrestres",
Perdi a consciência de que eu também tinha sentimentos... De que eu tinha preferências...
E de que já não as conseguia distinguir...
Eu... Eu, embora perdida, moro numa quarta dimensão.
E tu...
Tu compreendes as minhas emoções,
Lês o meu toque,
Descreves-me o que estou a sentir...
E eu sei que dizes a verdade.
Sei, porque quando falas o meu espírito estremece sem reacção física,
Porque quando o fazes o meu interior sente-se aliviado, em paz,
E... Parece que me vai saltar do corpo a qualquer instante...
Simultaneamente, isso não acontece porque no local do meu coração,
Precisamente no meu peito,
Sinto um vazio demasiado pesado que me prende o espírito ao corpo,
Que não deixa a minha alma flutuar..
Que não a liberta...
Quando olho para um árvore, ao sol, ao vento,
Não vejo Natureza... Vejo magia.
Uma queda de purpurinas que não se desloca,
e que brilha.. brilha...
Para que possamos respirar.
Mostraste-me magia.
Mostraste-me aquilo que eu sou.
E que, ainda assim, não consigo perceber...
Mas não me importo.
Porque estás dentro da mesma bolha que eu...
Porque dentro desta bolha, onde estou perdida, sei que me dás a mão,
E que me ajudarás a construir o meu túnel...

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Vive cinza, vive

Sinto... Que nada sinto...
Um ardor no meu peito
Que se enrola como uma chama,
Que negra e vasta te proclama,
Procurando água para se acalmar..
Chama que arde sem pudor...
Procura matar a sede, ainda sem a encontrar...
E no escuro deste vasto mundo se tende a estender,
Tende a destruir, e a queimar...
E não consegue, por mais que queira, parar.
Tudo o que queima, consome,
E tudo o consumido, só em cinza se pode transformar...
Oh mundo, não te destruas...
Não te deixes pelas chamas destruir,
Pelas chamas queimar..
Pois toda a potente chama, de cinza não passa,
E qualquer brisa devassa
A leva para longe daqui...
Voa, cinza, revoa...
Se disso não passas, em que mais te podes transformar?
Liberta a tua cor ausente,
Que outrora tives-te em mente
E se perdeu...
Com as chamas se foi...
Com as chamas se desvaneceu...
Voa, por isso, cinza.
Voa porque despedaçada nada mais poderás ser,
Nunca mais te juntarás ao que foste,
Nunca mais te unirás ao que acabas de perder...
E tu...
Se és pássaro, voa.
Quebra ventos e tempestades, mas voa.
Encontra-a e pega, algures, nesta cinza,
E simplesmente revoa.
Leva-a para o teu ninho...
Não deixes que o vento,
Em mais breve desalento
Te leve a cinza por outro caminho...
Acolhe a peqena cinza, e alimenta-a...
Acolhe-a no aconchego do teu ninho,
E com amor e carinho,
Constrói um novo ser,
Mostra a essa cinza que pode ser mais que aquilo que é,
Muito mais que aquilo que foi,
Que pode crescer, e ter a cor mais viva
Que em vez alguma sonhou obter...
Se o fogo se apagar...
Nao deixes essa cinza voar...
Porque precisa das tuas penas
Para poder continuar a viver...
Para continuar a sonhar...

terça-feira, 24 de março de 2009

Pego na consciência que desconheço
E não a quero, de todo, soltar.
Não percebo porque a prendo,
Não percebo porque quero com ela ficar.

Egoísmo, poderá ser?
Procuro uma razão óbvia
Que prevejo não existir.
Não entendo porque a procuro,
Não entendo porque não a quero deixar ir.

Finjo que não me afecta o medo,
Finjo que não sinto pavor,
Permaneço silenciosa
Fugindo do tormento, fugindo do teu amor.

Quero saber o que me escondes,
Entender o que por trás desse olhar se oculta!
Lágrima que cai, sem sentido,
Que por mim chora, que a ti te escuta.

Pego na consciência que desconheço
E breve e levemente a toco no ar,
Pego-a sem mãos, nem rumo,
Esperando em breve dia
Tamanha alegria encontrar.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Leve Sonho

Acordei para um novo dia...
Sinto que posso ser algo mais do que sempre fui.
Sinto que sou muito mais do que sempre imaginei ser...
E neste dia, nada me desiludirá,
Nada me poderá fazer sentir o que sentia:
Nem hoje, nem amanhã,
Nem no dia seguinte,
Nem nunca mais.
Acordei de paz na alma e no ser, sinto-me leve,
Sinto-me voar além do céu azul,
Consigo sentir o caloroso toque do sol na minha pele,
A leve brisa a dançar nos meus cabelos...
E aqui continuo.
Continuarei.
Voando como um pássaro sobre o azul do mar,
Sentindo o acolhedor aroma da maresia,
Sentando-me nas pequenas nuvens que alcanço com o meu olhar.
Estou leve...
Feliz por me reencontrar.
Não consigo pensar em nada que seja doloroso...
Por mais que doa,
Por mais que custe saber existir,
Por mais desses momentos que nunca deixei de sentir,
Já não sofro, já não quero saber...
Entreguei-me ao tempo, tal navio que se confia ao mar,
E nada me tira a paz que sinto,
Nada me retira da nuvem que me aconchega ao deitar,
Nada mais que um leve beijo me fará despertar...
E ficarei adormecida.
Sonhando a cada noite com o embalar das ondas no meu corpo,
Sentindo o cheiro forte e salgado da água do mar,
Pedindo que nunca acabe,
Esperando que me embale até despertar.
E ficaria, por fim, bem quietinha...
Sentindo cada segundo, como se do último se tratasse...
Esperando no embalo das ondas,
Desejando que nunca mais acordasse.

domingo, 25 de janeiro de 2009

Caminho Lacrimoso

Caminho sobre as ruas de um lugar que não conheço.
Caminho e nada mais quero saber senão caminhar.
Ando sem contar os passos,
Continuo sem perceber o quanto me afundo neste espaço desconhecido.
Mas não me importo... Simplesmente caminho.
Não pararei um segundo para olhar para trás... Porque a cada segundo se repete na minha memória cada gesto, cada palavra...
E não sei se quero voltar atrás.
Este lugar que não conheço tem um ar deveras assustador, arrepia-me continuar... Mas não me importo.
Caminharei dure quanto tempo durar.
Caminharei custe lá o que custar.
E não desistirei de caminhar.
Parte de mim espera que no fim deste lugar encontre as ruas que me foram tão familiares,
E que tanto amei,
Que tanto esperei encontrar,
Que encontrei e tristemente deixei escapar.
Não quero regressar,
Não quero novamente ouvir as mesmas palavras, para as deixar ir,
Não quero novamente sentir os mesmos gestos, para os deixar partir.
Outra parte de mim, exasperada, nao espera que este lugar tenha fim.
Desgosto de sentir o quanto perdemos,
O quanto deixámos passar,
E tenebrosamente espero que regressem as ruas,
Temendo não as reconhecer,
Temendo já não as conseguir amar.